Com
80 anos, Padre Eduardo abdica do conforto para viver entre moradores de
comunidade na Praia do Futuro
Foi
em 1960 que Eamonn Godwing, 80, foi ordenado padre na Congregação Redentorista
da Irlanda. Padre Eamonn, a propósito, é padre Eduardo. Traduzido e batizado.
Um dos muitos missionários irlandeses que deixaram a terra de nascença e vieram
morar no Brasil para integrar-se às comunidades menos favorecidas e lutar, com
os moradores, por uma vida digna e independente. Ele mora numa casinha na
comunidade Luxuou, na Praia do Futuro, e brinca ao dizer que, se sua vida é
simples, é de “propósito”.
Mas
não é só por meio de bênçãos e pregações que é feita a luta de padre Eduardo.
Com o apoio do conterrâneo, colega de quarto e também missionário, padre
Martinho Murray, 86, ele percorre oito comunidades carentes da Capital a bordo
de sua velha e bem cuidada motocicleta preta. Nas visitas, reúne fiéis para
rodas de conversa, organiza missas e coordena projetos sociais.
Três
deles fazem brilhar os olhos azuis do padre. O primeiro oferece alfabetização e
reforço escolar para crianças. O segundo insere adolescentes e adultos no mundo
da informática. E o terceiro, seu xodó, cria fogões solares, engenhocas
eficientes feitas de papelão e papel alumínio, capazes de cozinhar qualquer
alimento em, no máximo, duas horas.
Os
fogões são produzidos no quintal dele e resultam do projeto de um empresário
inglês que o procurou para pôr em prática a experiência na comunidade Luxuou.
Os aperfeiçoamentos são assinatura do sacerdote e de dona Fátima, moradora da
comunidade que o ajuda na fabricação.
Há
cerca de dez em estoque, que são levados pelo padre às comunidades que visita
como forma de incentivar o uso de uma energia sustentável e barata. “Só que
ninguém quer usar. Todo mundo acha bom, formidável, mas não querem usar.
Envolve mudança de hábitos e as pessoas não vão mudar tão fácil assim”,
lamenta.
Enquanto
conversava com O POVO, vez ou outra, quando o sol estava mais forte, procurava
o modelo de uso pessoal, checava o medidor de temperatura e comemorava: “Com
100º já dá para a água ferver. Hoje, estamos a 130º!” E, em casa, os senhores
usam mesmo o fogão para comer? “Cozinhamos quase tudo nele”.
Morando
na companhia um do outro desde 1996, quando chegaram a Luxuou, os padre são
prendados. Fazem todas as tarefas domésticas e só deixaram de cozinhar o
próprio almoço quando decidiram comprar “quentinha” num restaurante ao lado de
casa. Durante toda a entrevista, várias vezes padre Eduardo levantou e foi à
cozinha. Só depois, ao final, nos chamou: “venham cá tomar um café.”. Fomos. E
estava bom!
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2014/11/01/noticiasjornalcotidiano,3340959/o-padre-que-trocou-a-irlanda-pela-comunidade-luxuou.shtml
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